sábado, 4 de outubro de 2008

Música

Corro, corro em catadupa
Neste invisível sem nome
Procuro não sei bem como
ver tudo com uma lupa

Esqueço que o perfeito existe
na completa imperfeição
Ao procurar infinito
encontro apenas o chão

A música esse enlevo
nas palavras e no som
Encerra em si o segredo
do que apaga a solidão

O olhar no outro olhar
O tocar e o sentir
O receber e o dar
Nesta troca de existir

poema que fiz no cabeleireiro

Pele

Percorresse pela linhagem da pele
Isoladamente, a origem do rio
o calor de elefante
o artigo primo mais próximo, recente

E
libertar novo excesso
do elo mais interior
penas terríveis …
Ar, ar! Ar!

Da pele
libertar o resto,
as aves
os ossos leves
aéreos. invadidos. ocos

ar

Ar
Excesso
Calor Pele
Libertar Mais
Ar
Interior Invadidos
Isoladamente Ocos
Ar
Elo Primo
Origem Linhagem
Aves Penas
Aéreos
Ar
Terríveis Ossos
Resto De Rio Recente
Percorresse o Artigo Novo
Próximo Do Elefante
Ar
Aves leves penas
Ar.

filinta

Amar o verbo amar é demasia

Amar o verbo amar é demasia
Basta amar quanto baste
A vida, o mar e a maresia
As estrelas, o céu e a imensidão
Amar o Homem na sua exactidão
Nos gestos menores
Do dia-a-dia
Na sua breve alegria fugidia
No seu longo penar
De lenta agonia.

Amar o verbo amar é demasia.


José Almeida da Silva
In " Amanheceste em mim pelo poente"

Para a Xica ... com Amor !

Hoje, dia quatro de Outubro, é dedicado a S. Francisco de Assis, o Santo protector dos
Animais e a data mais bonita e indicada para recordar uma criaturinha encantadora que tem permanecido na minha memória, como um poderoso testemunho de amor e de entrega!
O animal que hoje aqui vou homenagear é, talvez, um dos mais belos e comoventes motivos da tela, onde vou registando, com tinta de riso e de luz ou de lágrimas e de sombra, cada um dos meus dias, embora, na minha vida, tenha sido apenas uma doce e indelével referência: a Xica, uma pequena e graciosa macaca! A tela a que realmente pertenceu e onde deixou gravada a sua marca, em pinceladas de amor, alegria e doçura, é outra, há muito tempo, interrompida!
Nasci em África. Uma África, então, pacífica, bordada de mar e enfeitada de cores alegres e cintilantes, envolta em sol ardente e cheiros doces e fortes, num arrebatamento de pura beleza e imensidão!
Nesse tempo, faziam-se, ao fim de semana, longos e deliciosos piqueniques, mato adentro, alegres pretextos para convívios familiares e de amigos.
Num desses piqueniques, na Anha, ainda eu não era nascida, a minha Mãe viu e nunca mais perdeu de vista, o que ela pensou ser um macaco, ainda pequeno, meio escondido, fugidio, mas curioso e a seguir, interessado mas, à distância, a divertida reunião.
A certa altura, uns olhos grandes, escuros e redondos como contas, cruzaram-se com os olhos claros de minha Mãe. Olharam-se, mediram-se, entenderam-se e começou, então, um silencioso jogo de sedução e conquista.
Vencido o receio, uma mãozinha esguia, escura e felpuda, perdeu-se, confiante, numa outra, branca e fina que a acolheu ternamente. Ao cair da tarde, no regresso a casa, a pequena macaca, (afinal era uma menina ), que decerto se perdera do bando, já tinha um lar, uma família e um nome: Xica!
E, entre a senhora de olhos claros e a pequena macaquita, nascia uma delicada mas forte relação de afecto e de uma imensa ternura!
Uns dois anos mais tarde, nasci eu e lembro-me de, já crescida, ver fotografias, aquelas fotografias antigas, a preto e branco, com uma pequena margem branca, recortada, onde a minha Mãe sorria e a Xica, os olhos grandes, escuros e redondos, como contas e a boca rasgada num pretenso "sorriso" de dentes brancos, se sentava no seu ombro esquerdo e lhe abraçava o pescoço alto e fino, com a mãozinha esguia, escura e felpuda; noutras, as duas, de mãos dadas, olhavam, divertidas, uma para a outra, numa afectuosa cumplicidade; em algumas, já eu aparecia, risonha, ao colo de minha Mãe, enquanto, a Xica, no chão, agarrada à sua saia, olhava atenta e enternecida, quero crer, mas não tenho a certeza, para nós duas.
Lembro-me de uma fotografia, onde eu e a Xica, estávamos sentadas numa esteira; eu, convencida que era a menina mais bonita da minha rua, fixava, em pose, o fotógrafo, que era, certamente, o meu pai, enquanto a Xica, a meu lado, se inclinava, para mim, com a mãozinha esguia, escura e felpuda pousada, docemente, no meu braço.
Mas, a de que eu sempre mais gostei, era aquela onde eu me aninhava, pequenina, nos braços macios de minha Mãe que sorria, com a Xica, empoleirada no seu ombro, a abraçar-lhe o pescoço alto e fino, ao mesmo tempo que, com o seu peculiar e rasgado "sorriso" de dentes brancos, transbordante de alegria, olhava, vaidosa, para o fotógrafo!
A Felicidade não é permanente! A Felicidade pode estar, simplesmente, nuns minutos, numa hora, quiçá, num dia, plenamente, radiosamente, vividos; pode estar no arroubo de um amor, julgado perdido; no instante fugaz, mas perfeito, de dois olhares que se cruzam e se dissolvem na mesma luz; na esfuziante alegria de um reencontro, há muito tempo adiado; numa notícia boa, ansiosamente esperada; num abraço apertado, tão desejado! Ainda que inconscientemente, sempre pressenti que, naquela fotografia, tinha ficado, para sempre registado, um desses raros e mágicos momentos, de suprema Felicidade que a vida, às vezes, generosamente, nos concede!
E, os dias foram transcorrendo serenos e rotineiros.
Quando eu tinha dois anos, a minha Mãe adoeceu gravemente e viajámos, à pressa, para o Continente, na vã esperança de a salvar e onde, porque a doença podia ainda ser contagiosa, nenhum familiar nos quis receber! Foram amigos que nos ajudaram e acolheram! De coração aberto e sem medo, numa preciosa dádiva de solidariedade e de afecto!
A Xica e a Pequenina, a cadela enorme que, de pequenina só tinha o nome, lá ficaram,
em África, entregues aos cuidados dos meus tios.
A Pequenina deixou de comer uns dias e sentiu, profundamente, a falta dos donos mas, recuperou. O instinto primário de conservação da vida foi mais forte do que o desamparo da ausência, do que a opressão da saudade!
A Xica, a macaquinha meio-selvagem, encontrada sozinha no mato, não!
Deixou-se ficar, teimosamente, sentada num recanto do jardim, com os olhos grandes, escuros e redondos como contas, à espera de ver entrar a minha Mãe, a qualquer momento.
Nunca mais comeu, nunca mais quis brincar, recusou, furiosa, sentar-se no ombro da minha tia e nunca mais saiu do recanto onde seria mais provável ver chegar, enfim, a luz que lhe iluminava a vida, cada dia mais débil, os olhos, sem expressão, cada vez maiores e mais redondos!
Uma manhã, pouco tempo depois, os meus tios encontraram a Xica estendida, imóvel, as mãozinhas esguias, escuras e felpudas, abertas num pungente abandono, o olhar vazio, transfixo. Tinha morrido!
A minha Mãe, que faleceu meses depois, nunca soube que a Xica, a macaquita indefesa que resgatara do mato, resgatando-a, assim, da fome, da solidão e do perigo, tinha desistido de viver, mergulhada na tristeza da sua falta, esgotada da angustiante expectativa de a voltar a ver e abraçar!
Eu, a filha única, desejada e querida, sobrevivi à dor, sem remédio, da sua perda; ao vazio, nunca inteiramente preenchido, da sua ausência; à amputação dolorosa do pequeno mundo dos meus afectos e bebi, cada dia de vida, a haustos longos e ávidos! Mas, a Xica não! A Xica desistiu e deixou-se morrer, presa numa dolorosa teia de amargura e afundada no desespero de uma infinita saudade!
Às vezes, nas minhas noites de insónia, como esta, imagino-as juntas, num jardim imenso, luminoso e perfumado: a minha Mãe sorrindo e a Xica, os olhos grandes, escuros e redondos como contas, para sempre feliz, sentada no seu ombro esquerdo, enquanto a abraça, amorosamente, com o seu bracinho longo e peludo, como na velha fotografia , a preto e branco mas, onde, incompleta, ainda permanecem vazios, os braços de minha Mãe!

Nota: Só é possível tirar a cria a uma macaca, matando-a! Imagino hoje, como a minha Mãe deve ter sentido então, o desespero da mãe da Xica e dela própria, quando, desgraçadamente, se perderam uma da outra!
Mas, só assim, a Xica pôde ser uma benção de dedicação, de ternura e de alegria na nossa família, especialmente, para com a senhora de olhos claros, a quem dedicou, amorosamente,
inteiramente, apaixonadamente, a sua vida!

Maria Celeste S. M. Carvalho

Tempestade

O vento puxa a chuva
Arrepia o meu corpo com a sua passagem
Na copa das árvores sinto a tua presença
Como te desejo…como quero sentir-te
A minha pele no toque suave das tuas mãos
Na invasão do teu corpo pelo prazer do nosso.

E assim alegremente tecia a minha tarde
Em tons verdes conjugados pelo cinzento
De um tempo fora do tempo em ânsias de tempestade.


filinta

Erros meus ...

Depois de voltar a conferir todas as palavras do texto (que pode ser lido AQUI), descobri que não tinha incluído 2 palavras e uma delas estava errada (é pele e não pelo).
Segue-se a lista certa e as minhas humildes desculpas.

ossos-de-ar-do-rio
recente
elo
terríveis
novo
origem
aves
aéreos
ar
percorresse
o
interior
resto
linhagem
isoladamente
primo
próximo
elefante
penas
mais
leves
pele
ocos
libertar
excesso
calor
artigo
invadidos

"Dinosauria, we"