sábado, 18 de outubro de 2008

4º trabalho de casa

"Era uma Primavera irregular. O tempo em constante mudança punha nuvens azuis e purpúreas a voar sobre a Terra. No interior, agricultores olhavam, apreensivos, para os campos. Em Londres os guarda-chuvas eram abertos e depois fechados por pessoas que olhavam para o céu. Mas em Abril era de esperar um tempo assim."

Virginia Woolf "Os Anos"

Como o tempo em Abril o meu nome mudou Hoje fechei e abri guarda-chuvas o resultado é simplesmente Maria... As três Marias!

1ªMARIA

Jovem Maria

Deslizo ainda junto a ti
encolhida nessa asa
onde a pele morena
de mão maior
me espaça os dedos
em ondas soltas
distendidas
na entrega louca.

Este Sol exterior no brilho ofusca
mas na redoma ainda sinto
o morno sopro de beijos
os sussurros e arrepios
num afagar de pomba
de bico escondido
onde me aninho.

Nesta rua não sou eu...
desprovida de sombras;
sete vezes mais leve
em cada passo levito...

Mas não te vendo
em cada minuto que passa
no desejo, na saudade,
sou a personagem aflita
no filme tremido,
na nitidez certa
de te querer
uma outra vez
à minha espera!

Maria Levita

2ª MARIA

Faz-se tarde Maria

Não gosto do cinzento olhar
quando abraças ao fim do dia.
Procuro o sorriso distante
de fugidas de jardins
entre frases aos molhos,
gotas de orvalho frescas,
melodias de silêncios
entre copas e arbustos,
às escondidas curiosas
dos chapéus vigilantes!

Soltavas beijos em qualquer hora,
perseguias os aromas,
destruias rotinas no desafio
dos sentidos...
e agora onde páras, onde estás
meu amor das Primaveras!

Quero de novo os papéis queimados
de ornadas fantasias de poemas...
ser a musa, a deusa, a louca...
Onde estás!

Tenho a pressa e o desejo
de amores-perfeitos,
margaridas, dos jacintos
colhidos nos passeios
de Domingos,
entre raios de brilho,
relâmpagos de mar!

Porque não me vens de novo,
vestido de orquídeas, de sapatinhos,
de rosas brancas, vermelhas, laranjas...
(antes que venha a noite),
visitar?

Não te quero assim!

Onde estás?... Onde estás?


Maria da Esperança


3ª MARIA

Memórias de Maria

Fecho o cesto de verga,
o vime da memória da tua ausência.
Não era p'ra ser assim
"Primeiro eu só depois tu"
Mas dizias afagando rugas:
"...espero por ti sentado
na manta de lã, quadrados azuis,
xadrez,
num relvado, junto a uma cesta
de flores... lá...
espero por ti
a meu lado..."

Saíste de mim neste mundo
Mas sei onde estás...
no outro lado do berço,
num baloiço, num embalo,
adormecido...
no Paraíso!

Guardo alegrias, consolos,
a companhia nos colos que
partilhámos...
Aqui...ainda és meu...
Ainda estás!

Não choro mais!

Maria do Céu