quinta-feira, 30 de outubro de 2008

"NÃO NOS DESLARGUEMOS", DISSE -

Minhas amigas e meus amigos,

As minhas desculpas pelo silêncio de mais de uma semana, mas ando aflita a escrever uma conferência e uma comunicação para o Brasil. Parto no Sábado logo de manhã e ainda não acabei. Também por isso não consegui comentar os trabalhos: preciso de tempo, e tenho tido muito pouco nestes dias. Por isso também peço desculpa. Mas todos os dias espreito o blogue e leio os textos, e fico feliz e grata por termos criado um espaço de partilha, de amizade, de confiança - e de qualidade.

Não nos "deslarguemos", como diz a Teresa! Eu, por mim, prometo não o fazer.

Um abraço para todas e para todos. E obrigada.

ana luísa

P.S. Dia 19 de Novembro está óptimo! Não sei o que acham.

Espantos

Sinto que te encontrei
no fim de semana passado
na casa da praia dos ventos,
das memórias soltas!

O planar das mãos
que nas tuas terminava,
tornava leves os passos,
aliviava cansaços,
causava de novo,
riso, alegria, espantos...
na cor laranja das flores,
nos brancos violetas
agapantos!


p.s. com muita pena não me foi possível ouvir o Sax do Nuno, nem rever
os sensíveis companheiros das poesias emergentes, fica para a próxima!
Cheers to you all!!

Correcção do 2º TPC

Alterei o último verso, por sugestão da Ana Luísa.

O próximo artigo de aves terríveis
percorresse ar, origem, isoladamente…
Elo mais interior de penas de ar leves
resto de linhagem de aves recente

Esses ocos 0ssos-de-ar-do-rio aéreos!
O elefante de peles de invadidos
ou calor de penas de aves, excesso ar…
o novo ar a libertar desse ar primo!

(2º Trabalho para Casa – Escrita Criativa 2008)
Anabela Couto Brasinha

Não sei como dizer-te

Não sei como dizer-te que a minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e casta.
Não sei o que dizer, especialmente quando os teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e tu estremeces como um pensamento chegado. Quando
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima,
– eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
o coração é uma semente inventada
em seu ascético escuro e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a minha casa ardesse pousada na noite.
– E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes caem no meio do tempo,
– não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço –
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra vai cair da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me falta
um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,

que te procuram.

Herberto Helder

Ainda a importância das palavras

Je dois aux mots la joie et les larmes de mes cahier d'écolier, de mes carnets
d'adult.
Et aussi ma solitude.
Je dois aux mots mon inquiétude. Je m'efforce de répondre à leurs questions qui
sont mes brûlantes interrogations.

Edmond Jabès, Je bâtis ma demeure