terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ela é bailarina

Ela é bailarina
Na rua olham-na delgada e fina
Os ossos quase lhe rasgam a pele
Lisa e translúcida que lhe veste o peito.
No palco os mesmos olhares
Vêem-na bonita.

Traz o pescoço esguio desnudo
Vestiu o fato coleante e o tule
Flutua num pas de deux com doçura
Com seu par forte que a segura.
É um cisne riscando as águas do palco
Esbelto.

Mil luzes e cores a fixam ao centro
Como numa tela colorida de Degas
Num ensaio mágico e luminoso de um bailado.
E ao som ora doce ora furioso de Tchaikovsky
Rodopia em mil piruetas sem fim
No palco, como na vida.

Leva toda a dor do seu coração
Oculta na ponta de gesso da sapatilha
Rosada de cetim a brilhar.
Traz um sorriso na face e os olhos de cristal
Absorvem os aplausos
Dobra-se enfim
Numa vénia.

É o último instante em palco
E o veludo escuro vai fechar-se
É arte sua vida tão dura?
Do outro lado do pano o vazio,
A solidão, uma lágrima, uma noite sem cor.
Em nós o coração a transbordar
Ela é bailarina
Deixou-nos um conto, mil sonhos
Pedaços de amor.

Elza