sábado, 15 de novembro de 2008

Debaixo da buganvília

Duas almas se tocaram
Há longo, longo tempo
Debaixo da buganvília
Que crescia
Num jardim de sonhos e melaço.

Duas almas esvoaçaram
Dançando ao vento
Debaixo da buganvília
Que crescia
Num eterno e doce abraço.

Promessas e juras de amor
Promessas que a brisa levou
Debaixo da buganvília
Que crescia
Nada ficou.

Mas ainda separadas pela dor
Duas almas não deixaram de sonhar
Debaixo da buganvília
Que crescia
De voltarem um dia a se encontrar.

Elza (Pi)

Soneto de Sentir

Tracei a laranja no pomar teu
Bebi o sumo que dela jorrou
Olhava esperançada o azul do céu
Mas sabor algum minha boca encontrou.

Molhei o corpo na bica de água
Que corre fresca da mina sem parar
Mas minha pele nada se arrepiava
E minh’ alma teimava cristalizar.

No meio dos livros encadernados
Por entre tuas estantes e quadros
Deixei-me estar buscando uma verdade.

Uma folha de papel então eu vi
A mão segurou o lápis e escrevi
Apenas o teu nome, senti saudade.

Elza (Pi)

LA COGIDA Y LA MUERTE

A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.


El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones del bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
!Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde,
Cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.

Un ataúd con ruelas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oídeo
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El quarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A los lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde,
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
!Ay qué terribles cinco de la tarde!
!Eran las cinco en todos los relojes!
!Eran las cinco en sombra de la tarde!

Frederico García Lorca

Publicado por Maria Celeste

Nota: Este é um dos mais belos poemas de Lorca.
Um poema forte, rubro, arrepiante mas, belíssimo!
Aqui fica, " La cogida y la muerte " especialmente,
para "la nuestra hermana" Maria Angeles Sanz, com
um abraço.

Desencontro

Revejo-te mas não te vejo,
Há quanto tempo é assim?
Diz-me, amor, porque não sei,
Como te perdeste...
De mim?


Sinto ainda a ternura
Das tuas mãos
Nas minhas...
No veludo das rosas, da pele
Na suavidade da seda
E do cetim...

Reconheço o brilho dos teus olhos
Em todas as estrelas
Que brilham
Longínquas...
A fio de luz,
Bordadas...

Vejo o teu sorriso macio
Na doçura
Clara e húmida
Das serenas madrugadas...

Escuto a tua voz e o teu riso
Em todos os sons...
Harmoniosos,
Do mundo...
Na água saltitante dos rios...
Nos campos... na rua...
Na música... nas fontes...
No mar azul, profundo...

Revejo-te, escuto-te e sinto-te
Procuro-te...
Chamo-te...
Espero-te...
Nunca te encontrei...não te vi...
Diz-me, amor, porque deixaste
Que me perdesse...
De ti?

Maria Celeste

A fotografia

Tem os cantos em serrilha
e em nada transparece
o momento distante
na fotografia!

Uma gota baça espanta o brilho.
Não se adivinha o instante
que desvia, esconde,
a límpida história além,
agora na ponta dos dedos,
cinco palmos do olhar,
parado, ausente,
naquela fotografia!

O sorriso de sincronia
no fumo do disparo,
no nariz de fole,
não revela
o desfazer precedente...
nem sequer o chapéu alto
atràs do símio,
pequeno, irrequieto,
que sempre acompanha
as máquinas de outros dias!

Vira-se, revira-se,
rodam-se os cantos,
procura-se...
um número apenas,
a cartolina dura, sépia,
da velha fotografia!