quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Eu, vossa Professora, desejo-vos...

Meus queridos Alunos,


Depois de trinta e seis anos como Professora, chegou, no dia vinte e cinco de Setembro de 2007, o momento de vos deixar.A minha aposentação foi um grande turning-point na minha vida! Um turning-point desejado, necessário e esperado que, no entanto, me deixou, plasmado na alma, aquele indefinido mas amargo travo de Saudade! De todos vós!

Hesitei muito antes de vos escrever esta carta. Porém, após todos estes meses, decidi "conversar" um bocadinho convosco, para vos desejar felicidades, para vos dizer que nunca vos esquecerei, para vos agradecer por terem dado tanto colorido e encanto aos meus dias, mesmo aos mais cinzentos, e para para vos chamar, mais uma vez, pela última vez, "meus"! Porque todos, e cada um de vós, foram, realmente, um pouco "meus"!

Ao longo dos anos, tantos anos, fui tendo notícias de alguns; perdi o contacto com quase todos mas, espero que estejam bem; outros perderam-se e perdi-os.Enquanto vos acompanhei, vi-vos crescer e cresci convosco; ensinei-vos e aprendi também; dei-vos afecto e recebi o conforto da vossa atenção e da vossa alegria.

No fim do ano lectivo, ofereciam-me, geralmente, uma rosa orvalhada de carinho ou, um ramo de flores lindas, perfumadas e brilhantes, polvilhadas de ternura, que eu apertava contra o peito e salpicava com lágrimas de emoção e incontido orgulho!Pelo vosso aproveitamento escolar, pela vossa gentileza, pelo vosso delicado "saber estar"!
Depois, à despedida, pediam-me, invariavelmente, que as guardasse, com o cartãozinho assinado por todos e davam-me, mesmo, algumas sugestões para melhor as secar, como se, nas suas pétalas secas, frágeis e amareladas, fosse possível eternizar aqueles momentos de doçura e encantamento, representativos de um período particularmente feliz e despreocupado da vossa Vida!

Na verdade, meus queridos, esse é o desejo ancestral e jamais realizado de todos nós: poder fazer parar o Tempo e o Mundo nas horas de mágica plenitude, quando o nosso coração quase explode de felicidade e alegria e o céu nos parece tão perto que quase podemos tocá-lo com a ponta dos nossos dedos!

Mas, aconteça o que acontecer, enquanto um só de vós se lembrar da Escola, dos colegas e de mim, voltaremos a estar juntos e vós sereis, de novo, adolescentes estuantes de energia e de Esperança e eu estarei lá, ao vosso lado, igualzinha à professora que trabalhou, riu e aprendeu convosco!
E, a rosa, orvalhada de carinho, continuará fresca, bonita , mais radiosa ainda, porque nimbada pelo brilho mágico que só a memória confere a tudo o que, enternecidamente, guarda!
É esse o poder espantoso do Amor, da Amizade e da Saudade, também!

Escrevo-vos hoje, meus queridos, para vos desejar o melhor e o mais belo de tudo!Todos sabemos, porém, que não vivemos num Mundo virtual de alegrias mil, num paraíso róseo de sonho e magia mas, num Mundo real, feito de dias de cansativa rotina, de momentos de fantástica felicidade e de horas de esmagadora tristeza!
Não quero com isto dizer que a vida seja simplesmente branca ou negra porque, é, no seu todo, um deslumbrante caleidoscópio de sentimentos e de emoções, um turbilhão incandescente e tumultuoso, de encontros e de desencontros! Connosco e com os outros!

Mas, a vida é também desafio que devemos aceitar de coração aberto,como aceitámos a missão que nos foi destinada e nos é entregue no dia em que nascemos. Porque, estranhamente, os desafios com que a vida se entretém a pôr-nos à prova, são sempre, por um desígnio superior qualquer, à medida das nossas forças, como a missão, (ou, será destino?), que nos coube em sorte cumprir.

À medida que crescemos e crescemos enquanto vivemos, vamos compreendendo que o nosso percurso, na vida, é a subir. Por isso, meus queridos, o caminho é, aqui e ali, difícil, tortuoso, íngreme!
Às vezes, tropeçamos, desequilibramo-nos, caímos e vemos esfacelarem-se, no chão, algumas das nossas crenças e ilusões, alguns dos nossos projectos, algumas das nossas mais douradas aspirações!

Contudo, porque assim tem de ser, levantamo-nos, recolhemos nas mãos, manchadas de pó e de lágrimas, os pedaços rasgados dos nossos sonhos, curamos as nossas feridas e prosseguimos, sempre em frente, sempre a subir, hesitantes nas encruzilhadas, parando cautelosos à beira dos precipícios que aparecem, quando menos se espera.Para nos ajudar, nesses momentos de hesitação perante o desconhecido, de terror frente ao abismo, podemos recorrer às nossas referências, à nossa consciência, ao nosso bom-senso e, com alguma cautela, ao nosso coração!
Porque, meus queridos, nem sempre podemos "ir onde ele nos quer levar"!

Se é verdade, que a estrela que se esconde no nosso coração e nos guia, nunca empalidece, nem mesmo quando o corpo evidencia já sinais de decadência, também não é menos verdade, que este companheiro precioso que nos mantém vivos, nunca envelhece e conserva, ao longo da vida, o mesmo ímpeto, a mesma ousadia, a mesma irreverência, a mesma paixão da juventude.
E, é essa sua fogosidade apaixonada que pode ser perigosa! Em certas situações!

Um grande escritor inglês comparou a vida a um tapete que vamos tecendo dia a dia, hora a hora. Nele, a nossa vida seria, ponto a ponto, bordada, a sangue e a espinhos, a fios de luz e a rosas, e as pessoas que fossem cruzando o nosso caminho, nele deixariam as marcas de fogo ou de gelo, da sua bondade ou da sua perfídia, do seu amor ou do seu ódio, da sua amizade ou do seu despeito, da sua dedicação ou da sua indiferença.
Muitas vezes, tenho pensado que, quando eu tiver cumprido a minha missão,( ou, será destino?), e desdobrar, aos pés de Deus, o tapete que laboriosamente teci, muitos serão os motivos lindos, coloridos, luminosos e macios que todos vós, alunos meus, ali terão deixado gravados!

E, eles contribuirão, com a beleza pura do seu recorte, para a redenção de todos os pedaços negros, pantanosos, medonhos, dos meus desencontros comigo mesma, dos gritos mudos dos meus terrores, dos momentos amargos do meu desespero, das horas pungentes do meu cansaço!

Talvez, nesta dualidade de luz e de sombra, nesta certeza de que tudo o que fazemos tem um peso e será a medida justa da nossa salvação ou da nossa condenação, esteja contido o sentido da vida!

Desejo, meus queridos, que a nível profissional tenham sido e sejam sempre bem sucedidos,(alguns de vós, eu sei, são nomes já altamente credenciados nas profissões que escolheram); desejo que se realizem plenamente, se valorizem e se agigantem, moralmente, cada dia que passa! Confio no vosso sentido de responsabilidade, no vosso empenhamento, na vossa combatividade! Mas, também confio na vossa solidariedade, na vossa generosidade e sei, que quando descansarem, serenos e aconchegados no conforto doce e tépido das vossas casas e estenderem à vida as mãos cheias de tudo, não vão esquecer aqueles que, transidos de dor e de frio, arrastam o peso insuportável de uma existência cheia de nada!

Desejo, igualmente, que tenham encontrado ou, venham a encontrar, o Amor da vossa vida, na pessoa certa, que vos ame, vos acarinhe, vos aprecie e não traia nunca a vossa alegria, a vossa confiança, a vossa inocência!
Um Amor que percorra convosco o tal caminho sempre a subir mas que, amando-vos e amparando-vos, vos dê inteira liberdade para escolher e decidir, frente às encruzilhadas, e vos deixe crescer e voar livremente no azul infinito dos vossos anseios!

Mas, também vos desejo um Amigo, alguém que, em certos momentos, é mais precioso do que um Amante, pois o sentimento de posse que, por força da relação amorosa, lhe é inerente, pode fechar-lhe a alma, embotar-lhe os sentidos e, por isso, não compreender, não ver e, às vezes, mesmo sem querer, sufocar e destruír!
Um Amigo não é assim!

Um Amigo, meus queridos, é como um raio de sol que, atravessando o céu pesado, triste e escuro de uma manhã chuvosa de inverno, enche de luz e encantamento todos os recantos do dia e cobre, de ouro e de pérolas líquidas, as pedras do chão, a lama, as árvores!
Esta é a razão porque, hoje, desejo, ao vosso lado, alguém que saiba dar, sem nada pedir em troca, que repouse, apaziguado, na vossa paz e vos apoie, firme e ousado, nas vossas batalhas e nunca, mas nunca, faça perguntas!


As horas foram passando e um novo dia desliza, lentamente, ao encontro da noite que se esvai, para, num longo e silencioso abraço, a diluir, definitivamente, na sua claridade branca e fria.
E, esta hora de mansa quietude, suspensa, entre a noite e a madrugada, é o tempo certo para dar por terminada esta minha "conversa" convosco.

Gostaria, meus queridos, de vos ter escrito a mais bela carta, jamais escrita, de ter inventado, para vos dizer, as palavras mais bonitas, jamais ditas, de ter criado, só para vós, as imagens mais delicadas, jamais criadas.
Não fiz, naturalmente, nada disso!

Ao reler estas linhas, penso mesmo que, tendo divagado tanto, teria, afinal, bastado ter-vos dito que vos amei, ensinei e orientei, como se fossem, realmente, "meus", que vos amo e que quero, do fundo do meu coração, que se sintam sempre de bem convosco, com os outros, com a vida!

Quero, meus queridos, que sejam felizes e, talvez, muito mais do que isso, porque a felicidade também se aprende, que saibam ser felizes!

Vossa Amiga para sempre,

Maria Celeste S. M. Carvalho

Livre

Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades


O silêncio grita na espera vazia,
E a sombra inunda as minhas tardes.
O luar não encontra janelas
Por onde se veja a madrugada,
Que ressuscite nos olhos e na voz
O som esquecido da gargalhada,
Que conquiste o mar, dele faça caminho aberto
E dance na alegria do encontro e na saudade,
Que ser humano… adulto, criança, sério, insano…
Tudo é nada, se o não é em liberdade.



António Roma e  Raquel Patriarca
19.novembro.2008

Tabacaria - Álvaro de Campos


Poema de Fernando Pessoa dito por João Villaret

Renascimento

Já arrancou a 1ª Edição do Workshop de Escrita Criativa em Poesia, Nível II. Com este reinício vamos inaugurar algumas novidades, sendo que a primeira e mais importante é darmos as boas vindas a quatro novos amigos, companheiros no amor à poesia.
Cá vai: António, Marlene, Joana e Ivone… Bem-vindos ao Mar Parece Azeite!
raquel patriarca
vinte.novembro.doismileoito

Os primeiros trabalhos

Andámos às voltas e enchemos uma das folhas de meios versos e palavras soltas.
Na pressa de últimos,juntámos nas cabeças ideias muitas, tansferindo para o papel
algumas delas no seguinte poema:

O meu amor é tudo em mim,
a importante forma de sentir,
um cuco que desperta
Novo Mundo ao meu olhar!

Mas se o sinto assim
como Aurora Boreal
inconstante, momentânea
sensação
de caminhar na penumbra.
talvez não tenha a fortuna
de saber o que ele é.
então...
o meu amor não tem
importância nenhuma.

Sara e José