sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Um poema de que gosto

Na nossa primeira aula da segunda série vagueámos na fronteira indefinida de prosa poética e poesia. Não ficou claro. Ainda ando enredemoinhado como num jogo de voleibol onde a bola atravessa a rede e não chega a cair ao chão, de qualquer forma continuo a pensar no assunto. Como resultado destas divagações lembrei-me deste verso de Carlos Drummond de Andrade " o amor, seja como for, é o amor " e recolhi o poema para partilhar convosco

Cantiga de amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo
suspende a saia das mulheres
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.

Meu bem, não chores,
hoje tem filme do Carlito.

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meios verdes
e desejos já maduros.

E quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.

Amor é bicho instruído.

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na àrvore
em tempo de se estrepar.
Pronto o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo corpos, vejo almas,
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender.