domingo, 30 de novembro de 2008

O que há num nome?

“what’s in a name?”
(William Shakespeare, in Romeo and Juliet)
Sou melodia de cítara
Sou musa dançando nas ondas
Sou flor em ramo de princesa
Sou sorriso em rosto de criança
Sou raio de sol doirado
Sou pedaço de luar
Sou folha branca de papel
Sou nenúfar numa tela
Sou tudo isto e muito mais
No entanto
Apenas respondo quando chamas o meu nome.

Espera, cheira-os.


----------------------------------------"what's in a name?"
-----------------(William Shakespeare, Romeo and Juliet)



Existe a lágrima
o sal, a janela, o vento.
Existe o pássaro de olhos negros
e as minhas folhas caídas.


----------------------------------------Existem para além de ti.
----------------------------------------Existem sem os chamares.
----------------------------------------Mas se mesmo assim os queres
----------------------------------------esbugalhados na tua mente
----------------------------------------não os olhes de frente.
----------------------------------------Espera, tira-lhes as medidas.


Existem as Marias das padarias
e as de linhagem real
Existem segredos guardados
nas folhas antigas de um jornal.


--------------------------------------Cada um vive escondido
--------------------------------------dentro de um cristal suspenso
--------------------------------------de infinitos planos polidos
--------------------------------------que reflectem o branco imenso
--------------------------------------em civilizados sentidos.


Existe o riso
o mel, a porta, o calor.
Existe o pássaro de cores vivas
e as verdes folhas nascidas.


----------------------------------------Invoca-os com a alma e espera.
----------------------------------------Eles surgem de repente,
----------------------------------------na forma e género humano,
----------------------------------------às vezes gastos e vãos
----------------------------------------vindos de um percurso insano,
----------------------------------------nunca sós, nunca sãos,
----------------------------------------mas vivos, vivos certamente.


Existe a cor
do pássaro de olhos negros.
Existe o vento e as lágrimas
das famílias de reais segredos.


----------------------------------------Deixa-os chegar devagar
----------------------------------------observa-lhes as cores da cauda
----------------------------------------como a um rasto de um cometa,
----------------------------------------sente-lhes a insinuação.
----------------------------------------Destrinça-lhes o passado
----------------------------------------os voos rasantes aos sentidos
----------------------------------------as colisões e os seus gemidos.




-----------------Sente as fusões que levam nos genes
-----------------de tantos outros suspensos cristais
-----------------Espera, saboreia, cheira-os.
-----------------Não há dois nomes iguais.

Tigre de Ouro

Tigre de Ouro


"O único mistério é haver alguém que pense no mistério"
Fernando Pessoa



Lorde protector: Escrevo-te para dizer que os teus castigos não chegam aos calcanhares dos humanos.
Desculpa a sinceridade mas tenho todos os homens dentro de mim, todos eles dizem que:

Os teus prazeres são tão pequenos, as tuas frutas e flores não produzem drogas suficientemente fortes - precisam de ser modificadas pelo homem para provocar alucinações verdadeiras
E as plantas e as plantas...


O azul do céu mete-me nojo, – Tal como Papini toda a natureza me mete nojo
Esvaziem o Atlântico de mar e encham-no de lobos - Que todo o mar uive -
Que todo o mar chore - As plantas - usem-nas para enforcar os poetas e que Ovídeo


De todas as figuras de estilo a hipérbole é a que menos me enoja …
Tal como Zaratrusta tenho medo de me partir ao meio,



E Não viverei tempo suficiente para ver a musa de Clio a fritar as pernas aos historiadores pouco metódicos, antes disso arrebento de tanto acreditar no Homem

Tal como Galctus a minha fome não se sacia nem com uma galáxia inteira, principalmente depois de saber que dois corpos nunca se tocam…

E para quê O mito do eterno retorno
Se amanhã voltará a haver rojões à portuguesa?

não descansarei enquanto não for inventada uma cadeira eléctrica que aproveite o uso das marés para produzir um choque tão forte e intenso que nunca mate - mas que frite lentamente - durante mil anos - Os corações dos poetas atirem-nos aos porcos
e com os seus versos embrulhem as bolas de berlim

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Amo a inutilidade - A desintegração --- tudo que é inútil me excita violentamente

Estou triste tristíssima - por não ser a Suécia inteira
e choro lágrimas de sal que chovem sobre Copenhaga - Tapo o Sol com as minhas mãos de nuvem e trago a tristeza ao mundo...


Amo-te por seres incompleto LORDE - Por ter de ser o homem a criar-te!
Ele - Quem - Onde? - Foda-se amo-te mesmo! Tal como Sarah Kane -
amo-te mesmo - amo-te mesmo - amo-te mesmo Foda-se...


Violeta de Gand, 2008

O que há num nome?

"what's in a name?"
(William Shakespeare, Romeo and Juliet)
O que há num nome?

Beleza, matéria, poema em verso
Feito de todas as partículas do Universo
Por que chamar, a que apontar
O que tocar, por quem chorar.

Caleidoscópio, borboleta, magnólia
Uma canção que ecoa no interior
A palavra saboreada como arte
O nome de alguém para depois chamar amor.

Os grandes nomes da História
Gravados nas armas da pedra secular
Numa vénia nos dobramos a honrar
Ou lutamos, questionando sua glória.

Mas os nomes e o sangue: tudo parece pesar!
Seja rei ou marinheiro feito ao mar
Dizem que herdamos das estrelas nossas veias
Que o passado nos apanha em suas teias.

Nome, estirpe, marcação de um ponto
Porto seguro, amor despido, protecção
Ou será grade, fenda, muralha, subtil prisão,
Tentáculos de polvo, estranhos num encontro?

Como Capuletos e Montecchios: são dois nomes!
E assim se dividem sempre as gentes
E as almas onde ficam? Uma voz a perguntar
Se “Toda essa gente já desapareceu, nem uma para semente.”

Capuletos e Montecchios são dois nomes
Em duas almas a querer se transformar
E são tudo, laços, destino, noite, alvorada
São nomes, são tudo e não são nada.