segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

poema a duas vozes

à Joana, um pedido de desculpa por usar a mesma estrutura visual que usaste no teu poema. mas como o meu é uma espécie de diálogo, não encontrei outra forma de separar as duas vozes.

quanto ao poema, ainda não é escultura, mas cá fica.

outra coisa, eu juro que tentei meter a nossa epígrafe no canto direito. mas ela recusa-se! então, se alguém souber como o fazer que esteja a vontade para entrar nesta mensagem e metê-la no seu devido lugar.


poema a duas vozes

O que há num nome?
W. Shakespeare

Amei-te no momento em que te concebo.
Olhei o mistério da vida
com mãos trémulas sobre o ventre
e um sorriso nosso, sem medo.

__________________Não concebo a vida sem ti.
__________________O que seria do sol sem o teu riso de terra?
__________________E da casa sem a tua alegre ternura?
__________________E da noite sem a tua mão segura?

Intimamente, sempre soube o teu nome.
Só não era feito de sons ou de letras
mas de leves movimentos na barriga
e de músicas que te cantava em surdina.

__________________Mãe, nome de todas as mães desde sempre
__________________mas que só teu é verdadeiramente.
__________________Só em ti a doce palavra
__________________é olhos de mel, figos no cabelo,
__________________tardes de trigo, noites em novelo.
__________________Só em ti é inteira.

Não sabia amar antes de te saber.
Por ti saltei muros, invadi rios,
rompi montanhas, sangrei abismos.
Por ti sou capaz de Viver.

__________________És o primeiro amor da vida
__________________passagem do escuro
__________________para a própria vida
__________________amor que se multiplica em vida.

Espero de olhos em ti, menina
que um dia embales o que agora tens nos lábios
que te desdobres e multipliques em mão e filha
que de ti se deslumbre o infinito.

__________________E assim não morra o amor em mim
__________________mas continue a existir em nós e no futuro
__________________que estes nomes sejam fruto maduro
__________________da árvore do nosso jardim.

Aqui e agora

Quando lançaram o desafio do lugar especial veio-me logo à ideia um refrão do Gilberto Gil que diz:
"O melhor lugar do mundo é aqui e agora".

Não consegui descolar da ideia e colei, como pude, o que queria dizer:

Aqui, onde o mar arranca.
Agora, quando a água tinge.
O tempo de tez tão triste.
A pele de cor tão branca.
Aqui, onde o mar abraça.
A terra nos braços cinge.
Aqui, onde a vida passa.
Agora onde o amor existe.
O lugar onde tudo mora
os meus - aqui e agora

Efémera eternidade

«What's in a name?»
(William Shakespeare, in Romeo and Juliet)


Um Nome ou Apelido – faz diferença?
Ou são uma única e a mesma coisa? –
Camadas sobrepostas como a loisa
Onde se escreve ou se apaga a vida tensa.

A angústia cresce sobre a alegria
E a razão sobrepõe-se ao sentimento
Da emoção e do drama que é a vida
No percurso do sol e da lua e do tormento.

Ser António ou Fernando é ser Pessoa –
Nome que por si só traz fios e traz vozes
Que são um chamamento aceso que entoa
O grito, o choro, a inquietação. Algozes!

Um nome é um denso lugar de intimidade
Um privilégio parental e os seus desejos
Cerceando ao nomeado os seus ensejos
De busca de outro nome, de outra identidade.

E assim se pena uma efémera eternidade
Sofrendo a todo o custo a dor de exorcizar
O nome que não traz tão-só uma identidade
Mas traços de estilhaços só no nomear.

Um nome traz consigo todo um drama – a trama
De viver por dentro intensamente na relação
Com outros que são gente que assoma à razão
E sorrateiramente se instala e se inflama

Trazendo nas chamas modos outros de ser,
Embora o mesmo nome, a alma se enriquece:
Vive com outros olhos – mestres em padecer –
Para se olhar no fundo das almas que o entretece.

Um nome é também uma enérgica opção
– Caminho aceite de afecto e de razão –
No seu acolhimento contém a liberdade
Com que recebe a imposta identidade.

Um nome é uma trança de vontades – em silêncio diz
Tudo o que se não sabe e que o seu ser prediz.

(2008.12.01)

meu douro, meu tesouro


fotógrafo:Marc Dozier

Aqui onde as estrelas passeiam
Pelo meu corpo, humildes
Entregam-se uma a uma
Serenas de uma beleza única
Elevam-me em pensamentos
Que me fazem viajar até ti.

Deparo-me com um sorriso
Quando me lembro que estou
No seio do património mundial
Onde as montanhas bebem
O néctar das águas barrentas
De ti, do meu imenso DOURO.


um local de eleição, resposta ao desafio do Nuno Ca
obrigada, filinta

um outro olhar...(8)

foto: José Figueira
“na ilha terceira…”

uma montanha feita de verde, tão diferente, tão distante
junto do céu e do infinito
tão longe de tudo… tão perto do essencial

chegados lá, cansados, sentimos que valeu a pena
na ilha terceira, nessa montanha feita de verde, perdida no meio do oceano
sempre com o mar, azul, a abraçar a floresta, verde
sentimos que estamos no centro do mundo
e por momentos estamos sós, com a origem da vida

o mar selvagem de um lado
a floresta virgem do outro
e nós lá no meio

tão longe de tudo… tão perto do essencial