quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Inquietação

Este desassossego que sinto
Espero
Seja desespero findo e
Passe
A uma débil oscilação
Porque a frágil estrutura
Cede
Sob a
cabeça
insegura
Entre o sim e o não

Este tremor que eu sofro
Quero
Que seja apenas ssssopro e
Cesse
De abanar a construção
Porque eu assim concreta
Espalho-me
----------------Ao comprido
-------------------- e em linha recta
----------------------------------------------vou em tua direcção

Por isso peço que guardes
O toque, a música e as estrelas
Pois no céu andam sem vê-las
Por mas dares pelas tardes

Por isso peço que poupes
Nos gestos e na flor da pele
E que o coração não roubes
Enquanto sou dona dele

Lado B

Trazes-me tu este sabor a novo
Às coisas que eu trago há tanto tempo
Como se sentado no chão me abrisses
Em arca e soubesses
Exactamente
O lugar onde eu guardo
As coisas gastas que tu gostas.
Em teu redor tudo –
Eu e as palavras
Não as reconheço, eu que as digo
Surgem de mim já tuas e eu
Espantada
Por ver-te ver-me assim
Revisitada
Trazes-me tu esta nova versão de mim
Que com jeito e sem um gesto
A mais soubeste encontrar
Desconhecia até me fazeres dizer
Com clareza
As palavras inéditas que viviam dentro
Das outras, e dentro delas outras e outras
E eu outra tanto quanto elas,
Sem saber
Se fui eu que disse ou fui dita por mim

O poeta- mar de novo

Ser poeta é ser capaz de resumir o agasalho
e não ter frio.

Mergulhar no Oceano tropical de listas
nos corais belos circundados de caminhos
que não ferem os joelhos os nós dos dedos
e dizê-los
entre risos de golfinhos luzidios
- como são belos alegres elegantes
os caminhos de corais e dos golfinhos.

È tocar o chão do mar às escondidas
das anémonas no colchão das arrecuas
de duzentos caranguejos.

É dançar com lavagantes e lagostas
nos braços de uma sereia
afagar-lhe os cabelos
beijá-la nos cotovelos.

Ser poeta é ser capaz
de sonhar os outros sonhos
entrar num mar de novo
e ser peixe
dentro deles.