domingo, 18 de janeiro de 2009

O aprendiz de harmónica

Não previ a torrente sob o musgo
a queda de pinhão que rapa
tira e põe histórias mágicas
no veludo das estrelas
o condão de varinhas quando
chega o sonho de pinheiros bravos.

Não previ os teus olhos
nas rugas dos meus
julguei-me gasto e cansado
entre as corridas de praias
e os mergullhos de àgua fria.

Desconcertei-me
qual aprendiz de harmónica
na doçura dos teus lábios, no sal
da lágrima feliz que ofereço tua.

És feita de tudo o que seduz
teu corpo é forma única.

Passeio a teu lado
fujo no minuto e volto
nos grãos de terra suja;
nas mãos a flor justa
do canteiro do Palácio
junto à quinta
nas presas margens do rio
que te ilumina o sorriso
os olhos de candeia
na gruta dos segredos
no milagre das rosas
do regaço dos desejos.

O amor partiu(-se)

Vejo-te partir e fecho-te a mala
O que fazer, se ao partires
Partes parte de mim?
Cacos fazes da casca dura que aqui vês
Sem que vejas que ainda dura
O que sinto por ti

E o que fazer?
Ao sentido do sentir, onde o levar?
Debaixo de que tapete varrer?
O pouco, mas pó que aqui fica
Do que não chegamos a ser

Para onde enviar?
O afecto que ficou
Por afinar ainda
Exporta-lo para a Sibéria
Num voo low-cost só ida?

Sem volta, estás de saída
E eu sem eira e com revolta
Te (im) peço que vás
E que (te) voltes
Para me veres ainda à soleira da espera

Não desesperes, que não consinto
Por não te ter já, quase nem sinto
Já não te quero mais deter
Vai, sai e faz-me um favor
Bate a esperança com força
E leva contigo o amor.