quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

As griffes de coração

Escadas verde alface
as portas de laranja;
casa de artista
- óculos rectângulo azul turquesa
sobrancelhas à janela
arquitectura moderna
minimalista, estanque
cores opostas e pelugens;
faltam os ursos pandas
pendurados nos bambus.

Gogos largos muitos dividem salas
criam transparências nos átrios clínicos
chão de tábuas largas corridas pretas
nos brilhos dos trabalhos das abelhas.

Um catálogo de lugares exaustos
sem vivências: procuro onde são
as migalhas, as poeiras, o palco
ricochete de chamas nas palavras
bolas numeradas de bilhar
cruzando tabelas de paredes
brancas, descobertas.

Falta o desmancho de regras
músicas vinil de outras épocas
copos vazios o desamparo de bolos
nos disparos de talheres
bocas abertas;
a toalha entalada de gavetas
cadeiras de pernas coladas
mesas disfarçadas de bandidos
massagens nas provetas dos dedos
trocas de calcanhares diferentes.

Faltam as ondas quando escorregam
os cotovelos as gargalhadas soltas
de uma mufla fumos de enxofre
cor de açafrão.

Esta casa não existe
não é real
faltam as marcas, as garras
as griffes de coração.