domingo, 1 de março de 2009

O Espírito

Lembrei-me de um verso de uma poesia que ficou na memória, lançada no improviso fácil
da declamante Ana Luísa: "eu sou do bando impermanente das aves friorentas". O poema era de Natália Correia, encontrei-o e resolvi partilhar.

O Espírito

Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas;

E vou com as andorinhas. Até quando
À vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.

Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:

Andorinha indemne ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.

Natália Correia