sexta-feira, 6 de março de 2009

Vicky Cristina Barcelona

Tu és tão forte
Abeira-te a morte
E a vida
Na mesma intensa
Corrida
Flor vermelha
Bem garrida
Do teu sangue quente
Escorre
Toda a paixão
Que te move

Tu és tão doce
Antes da paixão
A posse
De um amor
Que consumiu
Todas as notas
Da guitarra
Que bem assim te tocava
E a tua flor abriu
Só no fim tu percebeste
Que pouco afinal te moveste
E foi o amor quem fugiu

Tu és tão livre
Solta-te ao mundo
E vive
Procurando procurar
Quem tu és
Já pouco conta
Tu és quem sempre te encontra
És prémio de quem achar
Só no fim tu percebeste
Que parada te moveste
Sem nunca deixares de andar

Jonh Wiliams -Concerto de Aranjuez

Plumas persistentes

Sim é verdade que consinto
necessito
clarear o dia de plumas persistentes
nos ínfimos segundos
libertos: poesia.

Benção de açucena bela e fina
mesmo que o sentido no poema
seja forte de revolta duro de fractura
seja farta tempestade ou vela lassa
mas
sempre os tules transparentes
alvos toques de acalmia
maresias de pele morena.

Aparta-se de mim a alma
na dança breve e segura
e somos dois no mesmo espanto
de milagres de (a)letria
versos de sorvete
mantas de absinto
fatias de sonho estaladiço
na mesma forma à mesma hora
no mesmo dia ao mesmo fio;
um colar de infinito
pontos de luz
que nos funde na distância
na mesma noite de olhos unidos
na lua amiga.

Um poema de Vinicius

Allegro

Sente como vibra em nós
Doidamente em nós
Um vento feroz
Estorcendo a fibra

Dos caules informes
E as plantas carnívoras
De bocas enormes
Lutam contra as víboras

E os rios soturnos
Ouve como vazam
A água corrompida

E as sombras se casam
Nos raios nocturnos
Da lua perdida

Vinicius de Moraes
Oxford, 1939
Poemas, Sonetos e Baladas - Quasi