quarta-feira, 18 de março de 2009

Pinturas

A poesia da cor de Wassily Kandinsky


O poema violáceo

Violácea cor de fim de sol
no filtro de hera invasiva
sinal determinado de diferença
no esmalte de um papel vazio
branco, escutando as palavras;
pós invisíveis no recanto
do jardim.

O baloiço forçado no chinelo
arqueando o pé, trincando o lábio
embalando o verso nos poros da pele
creme protector dos sítios adversos
do lado de lá das grades onde passam
ausentes os obrigados dementes
presos de destinos sem tempo.

A brisa enrosca suspiros de tinta
fina, china, definida, nascente
de poemas sem título escorrente
como plúvias gotas de vidro polido
onde se decalcam transparentes linhas
focos giratórios de sirenes
luzes nos tuneis de razias.

Fica adstrito no sopro do vento
repetido, amigo, o toque, a companhia
alegrando os torrões onde se passeiam lírios
se esticam as estrelícias de folhas largas
o são aroma despoluído de jasmim trepadiço
as cores rubra e violeta de buganvílias
como paletas dançantes no fluir de tons
fluir de sons no Universo à parte violáceo
de poemas no fim de tarde no jardim.

À volta do Universo

gosto da canção e gostei da ideia colorida, resolvi partilhar.


A canção de Simone

Não tive tempo de adormecer
colorir de novo as penas de esperança.
A pele eriçou finos pêlos.
Restou a posição suporte
fetal.

Lembrei a lente de aro de prata
nos tempos de escola que aproximava
voava acima ao distinto pormenor
invertia a insignificância
na qual me sinto agora
reduzido e gasto.

Consciência de não retorno
e o ser capaz de ter olhos
nas costas contando
as marcas cada vez
mais longínquas de tantos anos.

Necessidade sufocada de sair
longe do ruído, do fútil
inútil distrair de afluentes.

Nas noites fundamentais
acendem-se lumes
aquecem-se bules
de madressilva e malmequeres
que espremem a ciência desfigurada
de ínvios destinos.

Firmam-se as gotas perenes salinas
e como diz Simone:
"a gente inventa qualquer coisa
p'rá ser feliz"
recupera a tentativa, reaviva
"se apaixona por um actor
por uma actriz"
e "ri à toa p'rá não chorar"
e "ri à toa p'rá não chorar"