sábado, 16 de maio de 2009

Então queres ser escritor?

Mandaram-me este texto que resolvi partilhar com vocês, porque concordo plenamente com ele. Eu já forcei algumas (muitas) vezes a escrita. Mas a escrita não se força sob pena de ser apenas esforçada.

se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração da tua cabeça da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.

se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.

não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.

quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.

não há outra alternativa.

e nunca houve.

Charles Bukowski (1920-1994)
versão de manuel a. domingos

Cristal

És o meu mundo
onde se afastam águas
e se afogam perigos

Onde a música das estrelas
cintila a noite

Onde as asas do sonho
e as cores da fantasia
eliminam sombras.

Neste teu mundo
desvaneço
esfumo
mãos de areia
perdendo o mar

E nele sempre me encontro
no céu dos deuses
das nuvens mansas

Entre o perfume das rosas
a carícia das brisas
dos jardins precisos

Qual pedra de cristal
refletindo
brilhos no teu olhar