quinta-feira, 2 de julho de 2009

Biblioteca

Bibliotecas nítidas na identidade primária
número:três cinco seis seis um sete seis.

As gavetas de fichas brancas
o cartão roído na procura dos livros.

Escolhia o Nobel da América: Steinbeck
"Vinhas da Ira", " Pérola", "Pastagens do Céu".
Místicas de quadros vagabundos, um pós guerra
sinais de fumo sujo nos "Bairros da Lata".
Personagens cativos e o leitor jovem no início
suspenso de palavras inscritas de feitiços
"A um Deus desconhecido".

Os dias no grande edifício dos claustros, altos
onde vento zumbia de subidas nas escadas de pedra
à grande sala onde pousava o silêncio dos olhares
leitura doce, ácida, alcalina de enredos, fantasias.

Os grandes livros no traço usado de riscos indevidos
os sublinhados, as capas de pele, macias; as palmas
como insignias de almas despertas, ali, vividas.

Tantos e tantos dias de Biblioteca
onde lia os primos versos dos poetas
sementes pequenas ainda inertes
de "... Leonor pela verdura..."
por "... mares nunca antes navegados..."

Condição... Da raiva à luz...

Obrigado por nada.
O professor é feito de uma matéria inefável, a qual, a maioria dos mortais não atinge.
Sim, o professor é imortal!
É algo que perpassa gerações, que ultrapassa referentes, que dispensa o comezinho, que de uma forma ou outra se incorpora e se enraíza num começo ancestral, se dela se pode falar, daquilo que conhecemos por Humanidade.
Adão mestre e preceptor de Eva e, Eva, preceptora e mestre de Adão.
Desse relacionamento pedagógico iniciático provém toda a candura que o caracteriza. A percepção de que tudo é composto de mudança, tudo é efémero e, que as modas ou circunstâncias se abatem sobre si mesmas porque ensinar é apenas e nada mais do que a arte de se imiscuir, torna-o, conscientemente, ser de cerviz baixa, típica atitude de quem aprende e ensina, acreditando piamente que o discípulo será sempre superior ao mestre.
Utopia, mito? Nem por isso!
Deixem-no fazer ao que geneticamente é propenso.
O Paraíso surge, como sempre surgiu nas mais adversas circunstâncias.
O caldo em que foi gerado, o relacionamento hierarquicamente democrático provindo dos tempos da criação, permite-lhe criar contextos e condições de mimar seres pensantes, se é que isso interessa, verdadeiramente necessários a épocas futuras.
Sim, há algo de inefável!
Não se aprende, não se ensina, não se transmite.
É uma vivência concêntrica, simultânea, que desperta no agente e circunstantes a essência do que é e do que será, do que foi e do que persistirá.
Sim, é assim que o professor é imortal!
É o fiel de balança entre poderes.
É sopro, é alma, é átomo no coração de quem o ama e deprecia.
É, de facto, célula estaminal.
Da diferenciação, cria e recria a alma, toda a célula existente num povo, cérebro, osso, coração, músculo, pele e, assim, cumpre Portugal.
Grandioso este poder ingénito. Inefável, de origem divina ou transcendente com atributos de beleza e perfeição superiores ao nível terreno não expresso em palavra humana.
Na bíblia, este poder ingénito e inefável, ocorre como inexprimível e indescritível.
Ser professor é arte performativa transcendental e, como tal, inexprimível, indescritível e inquantificável.
Deixem-no ser mito, imortal, inefável… o país agradecer-nos-á, pois este ser mitológico ancestral onde coexiste o utópico e o real, onde o ser é ter e, o ter significa inexoravelmente ser o saber, cumpre a difícil arte de ser autóctone em português
Ente imortal e estranha condição.
É sopro.
É alma.
É átomo no coração de quem o ama e deprecia.
É, de facto, mito.
Mito que é um nada e que é tudo e, como sempre quer, o homem sonha, a obra nasce.
Ser Português!
Obrigado por tudo.

A.J.Lima Reis

Texto publicado por Maria Celeste Carvalho