sexta-feira, 24 de julho de 2009

A pluma nova e a voz oculta





Usei a pluma nova na escrita
como se no fim de cada verso
molhasse um pouco o aparo dourado
num pouco de tinta.

Não eram plenas as palavras
(assim não as sentia)
mas infligiam a surpresa de as ver sair
nascendo sob a forma de um canto
saliente do silêncio; um rodopio de vento
um remoinho de massa cinzenta;a voz oculta.

Desviei o olhar para o janelo transparente
que leva ao fosso e separa o degrau
do imenso jardim de outros mundos;
asas longas de libélulas e outras
mais planas, largas, coloridas
mas ainda suspensas de borboletas.

Por momentos esqueci-me de ti.

Senti o pó como a queda de um penhasco
de onde saí tropego conferindo partes
recontando dedos, dentes, a campânula
onde alojo os cabelos.

Eram os mesmos.

Acordei dos tombos sentado no degrau
do lado de lá do janelo sentindo os verdes
como se de repente uma planície dentro
ao nível das orelhas, atrás das sobrancelhas;
um imenso céu cinzento plantado de palmeiras
e ainda assim em cima um céu azul, uma luz branca
no centro da árvore humana, vestida de rosto
e linhas, listas de cores de uma colcha antiga.

De lado havia flores, azáleas raras
um lago de águas paradas,uma estátua
e as árias de um pássaro de asas claras
o corpo creme e a voz oculta
que soava no bico aberto,contínuo
na escrita de outros versos;
círculo de uma música que soava
no quadro completo da diversa natureza
e uma pluma nova que escrevia sózinha.