domingo, 30 de maio de 2010

Musgo que dá Vida

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Foram dar banho a Patrícia (1) , mesmo assim não descobriram o seu sexo, desinfectam os seus eczemas, cortaram-lhe o cabelo. Puseram-lhe uma fita azul no cabelo curto, limpara as crostas de sangue nas curvas das orelhas, subia um bocado pelas fontes, a febre de Ana, anestesiada pelos calmantes. Fumou um cigarro no jardim do Hospital Psiquiátrico. Ficou sentada muito tempo Num banco de mármore, à sombra de um carvalho.

Não-lhe descobriram o sexo outras enfermeiras: Mas era Patricia, um ser humano múltiplo: Todos nós – No fundo de um lago dois sósias jogavam pólo aquático - estavam sempre empatados. O jogo demorou muito tempo; Patrícia disse que tinha um lago na cabeça. Apagou o cigarro que o médico calcou.


A música é vertical, não se vê mas é no entanto táctil e a maior conquista da Ciência Física ao serviço da Alma: O jogo continuava empatado, dentro da cabeça humana; com duas toucas roxas, o mesmo homem de sexo indefinido jogava contra si próprio e viva num empate do Fundo.
Gostava de ser uma mulher:


Foram dar banho à Patrícia e não lhe descobriram o sexo. Cronos cortou os testículos ao seu pai Úrano e atirou os testículos ensanguentado para o meio do mar. O sangue do sexo no contacto com o sal do mar, gerou uma espuma, pelo sémen de um titã do céu fazer humor com a terra. E da espuma, julga-se que no Atlântico formou-se uma mulher que emergiu: Patrícia foi criada da espuma, Afrodite foi criada da espuma: E Cronos passou a passear pelo lago. E a Patrícia nunca falava do tempo. Um relógio de alta precisão japonês: Era do seu pai: Patrícia meteu-o entre as mamas – O relógio de prata fria entre as mamas: E Cronos mergulhou no lago e ficou a observar os dois jogadores que eram o mesmo, com duas toucas diferentes: às roxas.



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Do casamento com Afrodite e Hermes, seu filho, nasceu uma criança de sexo indefinido: Patrícia – A hermafrodita que esquece. E nisto vejo a cidade de cima, vejo sempre a cidade de cima e sei onde eles estão: todos os filhos do sangue de Úrano: O planeta era hermafrodita e os pólos vão se unir: Noite e dia, sono e vigília, realidade e ficção, morte e vida, sonho e racionalidade, homem e mulher; espírito e carne (nunca pensei que o espírito fosse assim tão Carnal). A Fusão será única - a Patrícia vai mergulhar dentro do mesmo lago e sair para a rua para beber.

O planeta não pára: o ciclo não se fecha e renova e isso prova-o o coração de Patrícia a bater no peito: coordenado com o batimento cardíaco do seu coração, com o relógio frio entre as mamas

E Cronos passeia-se nas margens, com os pés no musgo, a fazer o tempo avançar dentro de Patrícia: Só há tempo se houver movimento de um ser. E A deslocação de um ser provoca da deslocação no espaço: na boca, na terra –Patrícia riu-se (como se deslocasse as margens de todos os rios sem dar conta: um riso contagiante. Caminhámos um bocado pelos jardins.

Aparece a Memória, a musa mais percersa, no seu bikini vermelho: E Cronos fixa excitado, completamente excitado, e para controlar a ansiedade e diminuir a tensão ordena aos deuses que hajam erupções em vulcões de todo o mundo: para acalmar a libido, os vulcões vêem-se em chamas por todos os cantos, todas as ilhas gregas, toda a Ásia Menor, toda a futura América Latina: Mas a memória é atraente e tudo quer. E Cronos não consegue controlar a erecção, e sai-lhe líquido pré—seminal como o de algumas flores gordurosas. E a Cronos só apetece fazer amor com tudo, fazem amor com tudo e consigo próprio, possuía a memória nas margens frescas do lago de Patrícia. E Cronos puxa a memória e dá-lhe um beijo no pescoço e depois no cabelo; a memória não se vira: Cronos não consegue acalmar a libido e quer possuir a memória de todos os homens, e comprar uma casa perto do lago de Patrícia, e ter os olhos magnéticos que tudo bebem, todas as memórias líquidas (as de todos) e mergulhar no fundo do lago.

E a memória que tudo Absorve compulsivamente chupa de baixo de água o sexo de Cronos, e os vulcões continuam-se a vir , aliviando-se a si e ao planeta: A memória chupa, e o sexo incha de prazer, o farol evangelista dá o sinal, os vulcões param, e Cronos vem-se dentro da boca da memória, e ela que tudo engole freneticamente, absorve algum do seu sémen e outro cospe na água esverdeado: os dois sósias espiam, E A mancha que bóia é o esquecimento e a anestesia. E os sósias vêm cá cima cima como dois peixes famintos e engolem o esperma esverdeado e adormecem abraçados no fundo do lago; Patrícia acende outro cigarro. A Memória volta a aparecer com o seu bikini, e repete-se o sexo oral subaquático, dos quais os dois homens que são o mesmo se anestesiam: e nos quais ficam viciados. E quando a Memória não vem ou vem mais tarde, os sósias ficam de ressaca, e tremem no fundo do lago.

e fazem amor por séculos na água quente do lago de Patrícia, enquanto os dois sósias espreitam no fundo: E o tempo, (toda a motivação só por o ser, é já movimento e acção)

Patrícia faz amor com a música horizontal (de onde vêm o prazer, a vida, a morte)
Patrícia faz amor com a vida horizontal e vem-se sozinha, no seu sexo indefinido, um orgasmo para cima do bolo (Tinha sido fundada por um Ministério, uma Associação que tivesse subsídios para se juntarem e comerem o bolo da Ana, com o leite branco e espesso de um orgasmo de dois sexos. E essa associação reunia-se num palácio com vista para o lago, grandes varandas, com cinzeiros grandes e sumos de laranjas e rissóis: E viam a Ana a afazer amor com tudo o que é horizontal, a Vida, a Música.

Conheci a Ana, levavalhe leite. Tentei que ela fosse comigo ao cabeleireiro, ao médico. Os seus eczemas preocupavam-me. Depois do leite bebia cerveja e vinho com outro sem abrigo ao lado Pingo Doce. Levei-a comigo mais tarde para o Hospital Psiquiátrico: Ela falou-me de um lago. Onde dois sósias jogavam Pólo-Aquático e estavam empatados e *as vezes lutavam e outras vezes faziam sexo dentro das balizasou no meio do campo.. Falou-me que o erro é a única forma de salvação e contou-me a origem do nome sexo e do nome sector. Os seus olhos pareciam de um magnetismo de âmbar, luminoso, um pôr do sol dentro da cabeça a iluminar de dourado o lago: Os seus olhos eram de cor nenhuma: mas extremamente Vitais. Do outro lado do lago outros olhos magnéticos, a chuparem a vida toda para si. Como se pelos olhos lhes entrasse todo o Universo.

Zeus criuou um único ser e colocou-o no planeta, um ser de sexo indefinido; Zeus achou-o feio e tosco e a precisar de companhia. Mandou que o fossem buscar e dividiu em dois; sectarizando, partindo, tornando um ser em dois. O homem ees mulher, cabia-lhes agora a eles serem deuses e eliminar essa secção e criarem eles próprios como deuses. E aproximarem-se na forma e em tudo numa fusão contínua. Patrícia levantou-se a sombra começava a desaparecer e fomos para outro banco, ofereci-lhe um cigarro à e ela continuou.: Riu-se “ A sombra dos lírios masturba a sombra dos homens”

Vivemos um século febril – Disse-me –Já leu Julian Artl? – Respondi que não – O nosso século precisa que a tecnologia se alie ao mais profundo da alma – A tecnologia ser só alma, ( o seu maior instrumento): Preciso de um abraço – Disse-me. Abraçámo-nos durante muito tempo. Eram por volta das seis da tarde.

Precisamos de mergulhar no mais fundo do humano: os seus olhos magnéticos, reflectiam o sol: Precisamos ser todos os outros, aprender com todos, mergulhar dentro dlees, nos seus olhos nas suas nucas, nadar dentro de cada ser humano, Lê-lo e ser também ele: Como se fosse morfina, o sémen de Cronos ( o que tudo faz mover) ou outra poderosa anestesia – o contrário de sentir que a memória cuspia, da cor na morfina para a água quente que e, que logo atraía o mesmo homem, que em dois corpos diferentes, nadava à superfície para com as suas duas para anestesia: Como o sémen liberto do tempo, fosse metadona: O esquecimento

Ficamos a falar durante mais meia hora e tive de regressar ao consultório.

(1) A mesma referida em "Delírio Húngaro"


Nuno Brito

Notícias do Inferno





No inferno, reencarnamos a cada minuto que passa
numa nova comédia viva. E isso cansa, inevitavelmente, cansa
o teatro anatómico do tempo, as estruturas tortuosas
do pensamento racional a que nos tinhamos habituado em vida
e os costureiros da má fé são dos únicos
que não pagam o tributo do zapping genesíaco
para trabalharem dia e noite nas oficinas da inconformidade geral.
Tudo isto pode ser ainda um pouco mais severo
se tivermos em conta que o diabo nunca existiu.

O inferno pode inclusive ferir
a insensibilidade dos espectadores
mais distraídos com questões pirotécnicas
ou com as sessões permanentes de sexo ao vivo
entre os seus conflitos mais nítidos
e toda a organização do festival.

Neste sentido, o inferno não só são os outros,
mas os outros que já não são eles próprios
e eu mesmo quando deixo de ser eu mesmo,
fora dos sessenta segundos que me justificam
e em que ainda é possível assegurar a analogia.