sábado, 19 de junho de 2010

Passado, Presente, Futuro






Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

não é costume falar da morte


fotografia retirada da internet


não é costume falar da morte.
ausência, presença irrepetível.
existe um dia.

não é costume porque a morte é triste
inexiste o corpo e a mente.
oco e vazio.

a morte é horrível -