segunda-feira, 19 de julho de 2010

um rosto de mar


Magritte

o braço abria um sulco e ocupava o espaço
antes de água e plâncton.
gotas de diversos tamanhos procuravam margens
que nasciam dos dois lados
dos braços que avançavam
sem a direcção a terras areias ou plantas
a perder em distância as exactas formas
de praias e naturezas.

um horizonte rectilíneo
no destino de cada braço que seguia
- remo de sìncope e ar alveolar
fluido muito puro
que tornava orgânico e menos frio
mesmo ofegante e quente na saída.

os braços pararam
o corpo deitou-se no lençol do mar
os olhos trouxeram a queda do sol
a pele ganhou o brilho de sal
e a consistência de uma folha de papel.

suspenso de sons só de águas
- um rosto de mar.

dentro de si surgiu a memória
e a saudade
a saudade daquele rosto daquele corpo
-uma voz longínqua na música dos lábios
que ali não estando
estava -