terça-feira, 27 de julho de 2010

o incêndio e a metade


(retirada da internet)


ressaltam as polpudas formas
verdes largas espessas
de um cacto grande
num pôr-de-sol lilás

de sul vem a brisa fresca
e o aroma das gardénias
subindo uma coluna branca;
pétalas de algum sossego

a noite próxima de olhos grandes
sussurra os lugares do sono
uma melodia leve de mar e sal

um corpo posto de água doce
de cabelos ainda molhados
esperando a hora
hora calma de algum sossego

de tarde voaram cinzas na estrada
um fogo a descer uma encosta
um fumo denso sem o tempo necessário
de fechar o vidro acelerar o carro
fugir do inferno

algum pânico sintomas de náusea

isolado isolada

uma chuva fulminante sobre as chamas
os gritos dos bombeiros
o trânsito parado

isolado isolada

uma ausência de metade
não cumprir o destino a entrega
as linhas das mãos as pálpebras
segundos de instante um lenço húmido
sobre a cara

nuvens e nuvens de fumo
por todo o lado

nunca foi a importância do ser
e sim a importância do outro
o não querer a responsabilidade do silêncio;
desapareceu não existe

o incêndio

passou
um banho
algum sossego as gardénias
a coluna branca
o pôr-de-sol lilás
as formas de um cacto grande

junto aos pés descalços gotas d’água
um pátio de azulejos largos e quadrados
antique cor de barro

respirou o aroma imenso
esperou o tempo mais escuro
e a lua mais larga

o número surgiu reescrito em cor laranja
a música era de Bach

deixou tocar deixou tocar deixou tocar

depois ligava -