quinta-feira, 29 de julho de 2010

de pretender atingir a plenitude complexa das coisas da criação ou o pecado de fazer perguntas



que diabo de ideia foi esta de se fazer corresponder uma infracção

a cada desejo instintivo de prazer? o senhor é sádico, é masoquista,
ou é as duas coisas? ou então é um plagiador do pior
e sem vergonha na cara, que isto em que vivemos
não é mais que a versão descolorida do tártaro clássico onde o alvo
do desejo se nos revela e se nos escapar, onde repetimos
os mesmos erros – invariavelmente –, onde sofremos
as mesmas dores, as mesmas perdas – constantemente

e se é no livre arbítrio que explicam as ambivalências do bem
e do mal, as encruzilhadas e os caminhos percorridos de que lado
da trincheira se há-de encaixar a ideia peregrina
da criação e comércio das bulas de indulgência ou
a estratégia brilhante baseada na inércia
a que comummente se chama de regime de prescrições?
pertencem à instancia das culpas, à família alargada dos perdões?

e o inferno? ainda recebe gente ou esgotou a lotação?
talvez se reserve, nos tempos que correm, à 'nata da escumalha'
sendo que o resto de nós, pecadores impenitentes
e hereges sensaborões, se vão ficando
órfãos e desgarrados pelos tapetes do purgatório, essa espécie
de foyer para almas medíocres, que ninguém sabe explicar o que é
mas que, ainda assim, é suposto ser certo que existe

e, já agora que estamos nisto, como pode uma
simples pessoa simples
sentir o conforto e o consolo da crença no divino
e a leveza da resignação e da confiança no eterno,
quando a pedagogia da fé lhe foi ditada por uma ogra
com excesso de pêlos e escassez de escrúpulos,
que manda fazer desenhos e só distribui canetas de feltro
de cor castanha, cinzenta e preta?

foi então que senti enterrar-se-me um par de orelhas de burro
pela cabeça abaixo e, de frente para a parede, fiquei de castigo
a ouvir as horas passar. e quando,
impaciente e de dentes cerrados, balbuciei
"que diabo...”
a terra tremeu e o ribombar do trovão.
foi a última coisa que ouvi

raquel patriarca
dez.julho.doismiledez

Para viver e não morrer só, não há pecados

É vício salvação
Alívio, não o prazer

ao lado essa mulher
realmente não vista
ali messias dizer
quem não pecou, pedra
atire a , como se
fosse essa primeira
vai e não peques mais

se houvesse pecados
existisse messias
julgar se piedoso
ocioso não amara

permanece pagã
corpo e mente são um
sabe se amor é amor
não deus, construíram no
esqueciam mulheres
a ilusão é ilusão assim

sempre sonho é sonho
por que amados, nós aí
não ficaríamos sós!

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Nota: Apesar do atraso
sempre chega mais um escrito do jantar
que foi tão precioso