quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Je pense à toi ( poèmes à Lou)


Salvador Dali " Cabeça de nuvens" Dali 1936



Je pense à toi mon Lou ton cœur est ma caserne
Mes sens sont tes chevaux ton souvenir est ma luzerne

Le ciel est plein ce soir de sabres d'éperons
Les canonniers s'en vont dans l'ombre lourds et prompts

Mais près de toi je vois sans cesse ton image
Ta bouche est la blessure ardente du courage

Nos fanfares éclatent dans la nuit comme ta voix
Quand je suis à cheval tu trottes près de moi

Nos 75 sont gracieux comme ton corps
Et tes cheveux sont fauves comme le feu d'un obus
qui éclate au nord




Penso em ti minha Lou teu coração é a minha caserna
Meus sentidos são teus cavalos tua memória é minha luzerna

O céu está cheio esta noite de sabres de esporas
Os artilheiros partem na sombra carregados e prontos

Mas a meu lado vejo constantemente a tua imagem
Tua boca é a ferida ardente da coragem

Nossas fanfarras eclodem na noite como a tua voz
Quando vou só a cavalo trotas a meu lado

Nossos 75 são graciosos como o teu corpo
E teus cabelos são fulvos como o fogo de um obus
que rebenta a norte.

Guillaume Apollinaire, IV, Poèmes à Lou

ápice


Man Ray " O violino d'Ingrés" 1924


revela-se uma unidade de destinos;
folhas pousadas no chão no seu último registo
como as dos plátanos , tão coloridas
e passos por cima naquele olhar angular e dirigido –

libertam-se os fumos dissonantes, subjectivos, a divagação das pinhas
quando ainda próximas de chuvas e vento, não à muito tempo
na presença alta dos pinheiros, enquanto
enquanto não se assume a intenção e o segredo;
a chave de miríades sensitivas, a essencial filosofia
a imponderável e permanente chama;
silêncios e paralelismo –

as águas da nascente foram titubeantes
quase presas, de poucos avanços, sem ganhar terras
sem descer montes, sem ganhar leitos, sem ver as pontes –

as águas da nascente são longas, largas e fluídas.
as margens ? de árvores tatuadas
inscritas de símbolos, marcas íntimas –

os pássaros planam planos por sobre
as curvas insinuantes e rumorosas do agora rio.
as rochas arredondam-se e despem-se sem frio.
separam-se as ausências e cessa o grito
a voz rouca do céu , do relâmpago, tão bravio –

destino uníssono
múltiplos dias de melopeia
linhas do mesmo linho
cordas de um piano
teclas agudas de um violino
ápice desvelado sem neblina –

passou pouco tempo. bem sei.
mas o que é o tempo?
o que vale o tempo?
senão o recíproco ?
quando recebemos e somos dádiva
no signo, na alma, na transparência

como quando se chora de alegria –