quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Estado Crítico em Ípsilon - Poema - Sylvia Beirute
























ESTADO CRÍTICO EM ÍPSILON


o y. que diferença
faz o y no meu genoma. o meu
genoma outro: que não explica
a natureza intransmutável do acto de
dominar quer o hausto do silêncio-significante,
quer um todavia em toda a via, em
autogénese e absorção de objectos
para um futuro cómodo
com menos poemas e tecnologia.
o y. que diferença faz o contorno da
falta do y no meu genoma.
nada saberia dizer.
excepto que é o teu impulso contrário
aquele que interpreta a fresta
da minha violência em paz,
que as circunstâncias que rodeiam a linguagem
são impeditivas de um outro formato.

Sylvia Beirute

inédito

.

Noção

Violeta onde se dedilha, consciência
E onde está tempo, em anestesia
ou no sono sem sonhos?
Tempo, espaço, movimento, energia
que haveria antes, que seja eterno?

Só uma coisa começou, única criação
a vida, connosco precisa-se
qualquer coisa mais
Pensar faz existir? Ou será sentir?
Qual o comunicado que interessa?
Diz-se, tomam conta à vez, será?
No último momento
o que lembra a consciência?

Há milhares de canções
milhares de filmes
milhares de livros
milhares de poemas
e não é o registo
não é isso...

E hoje?
Por enquanto recomponho-me
e festejo

a invisibilidade de deus


Fotografia via deviantart


dizem que em sua boca se realiza a flor

outros afirmam:

a sua invisibilidade é aparente

mas nunca toquei deus nesta escama de peixe

onde podemos compreender todos os oceanos

nunca tive a visão de sua bondosa mão



o certo

é que por vezes morremos magros até ao osso

sem amparo e sem deus

apenas um rosto muito belo surge etéreo

na vasta insónia que nos isolou do mundo

e sorri

dizendo que nos amou algumas vezes

mas não é o rosto de deus

nem o teu nem aquele outro

que durante anos permaneceu ausente

e o tempo revelou não ser o meu



Al-Berto "O Medo"