sábado, 11 de dezembro de 2010

Liu Xiaobo - Não tenho inimigos



NÃO TENHO INIMIGOS: A MINHA ÚLTIMA DECLARAÇÃO
(EXCERTO)

cumpro a minha sentença numa prisão tangível, enquanto tu esperas na prisão intangível do coração. o teu amor é a luz do sol que salta os altos muros e penetra as barras de ferro da janela da minha prisão, golpeando cada milímetro da minha pele, aquecendo todas as células do meu corpo, permitindo-me sempre manter a paz, a franqueza, o brilho no coração, e encher de significado cada minuto do meu tempo. o meu amor por ti, por outro lado, é tão cheio de remorsos e lamentos que me fez cambalear perante o seu peso. eu sou uma pedra insensata no deserto, chicoteada pelo vento violento e chuva torrencial tão fria que ninguém se atreve a tocar-me. mas o meu amor é sólido e afiado, capaz de perfurar qualquer obstáculo. e mesmo que eu fosse esmagado e me tornasse pó, eu ainda usaria as minhas cinzas para te abraçar.
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Liu Xiaobo
tradução de Pedro Calouste

Retirei este excerto do blog da Sylvia Beirute (http://sylviabeirute.blogspot.com/2010/12/liu-xiaobo-poemas-poesia-analise.html#comment-form)no qual se pode também ler, um magnífico artigo e vários poemas do actual Prémio Nobel da Paz.

depois do dilúvio


William Turner "A manhã depois do dilúvio"

foi apenas a manhã escondida na brevidade nebulosa
aqui e ali um raio, um foco, no amarelo branco de sol
e a inércia de não conseguir mexer as pernas
aquelas pernas por dentro, os sentimentos
desentendidos a assobiar no ar as melodias
querendo tudo dizer e depois tão calados -