segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

HOMEM NO ARAME - POEMA - SYLVIA BEIRUTE

















HOMEM NO ARAME

O essencial é delinear movimentos no céu. Movimentos
tão silenciosos que não deixem traço. O mais importante é a simplicidade.
É por isso que o longo caminho para a perfeição é horizontal.
..............Philippe Petit

e ele tenta incomodar a inexistência.
o nada lá em baixo. o ninguém de tempo
solto e explicações ofídicas.
a pessoa certa está por cima das nuvens.
como se se pusesse longe.
como se escondesse o medo.
como se se escondesse do medo.
e o arame da voz nos pés. o arame da voz
é agora cada coisa, cada janela aberta para
um sono de letras que desorbita
o queixo do mundo. o queixo
na forma de uma desforma do mundo
que lê marx e leminski, conhece
antíteses terapêuticas, predomínios
estranhos no desejo de um corpo de lugares.
e ele continua connosco. philippe
petit entre as torres gémeas, incomodando
a inexistência, sorrindo sobre a saudação
do coro, escamas de palavras que o orgulham
e cegam.

Sylvia Beirute
publicado no blogue "uma casa em beirute"
.

microgramas de azul sobre o frio - um poema de natal


Fotografia retirada da internet


o oceano azul e o céu azul.
procuro olhar a definição da cor que dizem fria
a cor que não tem tempo para a boca dos humanos
os que inventaram a escrita

procuro olhar a cor máxima de infinitos
o plâncton dos mares as nuvens na planície
a cor calma e pacífica
apesar da guerra dor e fome
e como mata a fome e como corta a fome
sem privilégios de natal todos os dias

procuro olhar o azul do burburinho
as canções que ressuscitam Lennon
e a anarquia dos sentidos
os coros angelinos nas vestes brancas
as iluminadas ruas da crise
procuro olhar todos os olhos
que apesar de alegres, tristes

procuro olhar o azul, a cor preferida
o lugar magnífico da utopia

e não interessa, não interessa mesmo
se é de anjo ou de bandido
a mão que traz o pão
que tira a fome
que tira a dor
que tira o céu escuro
no segundo mais importante do alívio

ética, demagogia, democracia
uma fila ordenada de filosofias
palavras, apenas palavras para um estômago vazio
sem a estrela iluminada, sem os reis magos
migalhas mínimas, um pó de sonhos

e algumas microgramas sobre o frio
no futuro dos dias -