sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Um poema luminoso de Sophia - Casa branca


Jacques-Henri Lartigue


Casa branca em frente ao mar enorme,
Com o teu jardim de areia e flores marinhas
E o teu silêncio intacto em que dorme
O milagre das coisas que eram minhas.
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A ti eu voltarei após o incerto
Calor de tantos gestos recebidos
Passados os tumultos e o deserto
Beijados os fantasmas, percorridos

Os murmúrios da terra indefinida.
Em ti renascerei num mundo meu
E a redenção virá nas tuas linhas
Onde nenhuma coisa se perdeu
Do milagre das coisas que eram minhas.

Sophia do Mello Breyner Andresen "Poesias"

as teias enredadas e frágeis



o tempo dos relógios não anda ao contrário
o pêndulo anda desconcertado não descreve arcos infinitos
anda, anda e depois pára, no meio de um quadro
….as tintas desbotadas,….a paragem….nas teias de um quarto
e as teias enredadas e frágeis, frágeis linhas inclinadas
num jogo inseguro de palavras.

José Ferreira 11Fev2011