sábado, 14 de maio de 2011

um poema para Penélope


Imagem retirada da internet

houve há muito tempo Ítaca, a ilha
a viagem e o retorno
depois da longa espera
e da partida.

ouve, digo-te, não tem que ser assim
se não houve despedida.

um homem citando o filósofo disse:
“que o homem se vê a si próprio
como ‘o eixo à volta do qual gira o mundo’ “.

mas não tem que ser assim, digo-te.
um homem e uma mulher existem por vezes unos
e em uníssono
mas sem despedida, no intervalo breve de frio
podem escolher o silêncio
a pausa de uma seara - o labirinto
o rosto branco de um nuvem - o infinito
a escrita de um artigo científico - de x e y.

e sem as lágrimas da despedida
tudo pode voltar ao azul das aves
- à asa fechada e à asa estendida.
e tudo pode ser
num outro espaço, num outro tempo
o deslize suave de almas unidas
na forma antiga -

como em Ítaca
mas sem violência e mais breve ainda -

José Ferreira 14 Maio 2011