segunda-feira, 23 de maio de 2011

frio nos olhos de um rapaz

subiu ao telhado sem telhas, alguma inclinação ajudaria. se nesse dia soprasse amena a aragem, também ajudaria. ou talvez, se soubesse que não é único órfão, talvez?! ou que os dias não são todos iguais, e não é bem por causa da luz.

há um momento imediatamente antes da morte, apenas. tem a imagem mais significante de toda a viagem. no fim, se não se leva mais que uma, pelo menos uma remota sempre existe. por começar nesse lugar, onde não era preciso coragem já que ainda não havia o maior medo, no intervalo de tempo impermeável à solidão incompleta, ou até completa. talvez um dia o rapaz veja, alguns maiores a passar, alguns com mais que essa, com lugares absolutos.

foi a noite mais escura


Kasimir Malevitch 1913

foi a noite mais escura;
sonâmbula de olhos fechados.
os espaços de passos lentos não existiram
no grande vácuo.
pela manhã
a água soluçou as tuas últimas palavras
triste
e seguiu o ruído do ralo aberto
o eco perdido da mensagem -

José Ferreira 23 Maio 2011