domingo, 12 de junho de 2011

Boletim Meteorológico

Pela manhã espera-se um arfar de orvalho brando,
que deslizará em surdina, entre nuvens.
Há-de segredar gotas envergonhadas
e qualquer coisa de chuvisco, quase arrependido

Pela tarde prevê-se a revolta.

O gotejar vai fazer-se trovão, fazer-se dragão.
Incendiará de dilúvios as cidades e as terras semeadas.
Absolutamente imperioso, há-de rasgar o azul do dia,
apagar qualquer possibilidade de sol,
e dissolver o horizonte.

Aconselha-se que fique em casa
Agasalhe-se
e leia poesia.

Lá fora há chuva.

Dorme bem




Dorme bem. A porta fechou
No ruído doce dos teus lábios e uma passagem leve de ar.
Dorme bem. Não farei a barba. Algumas gotas de água
Desfeitas, de almofariz, nos restos da noite, nos cantos da boca
Nos restos de noite, nos cantos dos olhos, colados por dentro na imagem.
Dorme bem. Fechou a noite depois do silêncio, no lado de fora do quarto
Até que parto, depois das gotas de água, para a nebulosa raiada de luz forte
No passeio da cidade -
Dorme bem. Levo a marca no lado esquerdo do rosto, uma linha grossa
Mais cinzenta, depois dos teus braços lavados de branco, dos teus …
Nem digo nome, belos e quentes como sedas nascentes, em descanso -

É cedo e a rua é apenas uma chávena opaca de gotas de orvalho -

Os pés recuam no tempo. Os anos são asas aceleradas, rápidas, rompendo décadas -
Será sonho?

José Ferreira 12 Junho 2011