sábado, 9 de julho de 2011

pela noite que se adensa




pela noite que se adensa e me reentra dentro, penso
como seria diferente
se soubesse voar, nocturno, acima das luzes
aos milhares
contá-las
uma a uma, como segundos que se gastam
descendo a encosta esquálida
de olhos no mar, até à reentrância azul
- foz natural, recepção oceânica -
onde estás
rodeada de círculos, por vezes laminar
no bico das arestas, no gume molhado das faces
quando centrípeto, divago
de centímetros cinza no caminho lasso
- período fraco de metamorfose -
como ilha no espaço.

abres e abres-me
a existência imaginária
desordenada
a viagem, na vertigem branca
a lua, que se alimenta
nos largos lábios de sal;
nas margens emplumadas
nas flores de prata;
oferenda submersa e vasta
na lisa lousa das palavras -

José Ferreira 9 Julho 2011