terça-feira, 4 de outubro de 2011

a intensidade de um poema de Shakespeare



a intensidade nunca saiu do seu rosto;
não indigno, não perdido, não indefinido, um pouco gasto -

ontem como hoje sempre a viu e sempre a via
como a única mulher nas areias longas,
apertando os sentimentos como água salgada, soltando o branco
e a chegada,
à praia -

sempre sentiu os sons da janela, a chuva e as dilatações do vidro;
os seus ruídos, e os ruídos longínquos dentro de si;
como ela o conhecia… nas mãos de asa… sabendo as linhas… as curvas…
os lábios entreabertos no lado interior da carícia -

sempre sorriu e sempre sorria, interiormente, na permanência incontida;
aquela dança lenta de baixar os olhos, erguer os ombros, abrir os dedos,
encurtar de gestos a planície iluminada, pela lua, em mil cinzentos -

sabiam-se assim, no rodear do tempo,de areia muito fina,
única, macia,
que não é relativa nem complicada pela física;
e corriam pelas noites magníficas na identidade dos espíritos,
vestidos pela luz sibilante dos diferentes,
em vício e adrenalina:

na dependência de escutarem o poema de Shakespeare
sempre, qualquer que fosse a distância,

como uma música -

José Ferreira 3 Outubro 2011