quinta-feira, 24 de novembro de 2011

da leveza



Margarida Cepêda "leves são os pássaros" 1999

naturalmente é da leveza de que falo.
o equilíbrio inseguro e afastado de quem lê o mar
da praia ou do alto da amurada.

o simétrico das águas reflecte-se no céu
da mesma forma que os espelhos cruzam vidros e pratas
numa soldadura química que voa
como pássaros -

há uma dança clara de silêncio, de ausências
que revela o ser diferente, na multidão e nas massas.
há um batimento e ritmo de campos no meio dos carros,
no meio das cidades
por onde deslizam rios e flores, tecidos de urzes e cardos
ou um soprar de odores, emergido, pelo meio das searas.
e há um sentido, sem ser único nem determinado,
um fluxo indisciplinado de procurar o mundo, um outro mundo
irreverente e irrevelado -

é da beleza de que falo, não na forma imediata
não do postal, fotografia ou anúncio mediado
mas sim de um sentir de metáforas que seguram espadas
e cortam os ventos quando são de fuligem e se propagam,
invadindo o rosto, procurando a alma -

é da beleza de que falo; do campo, do mar e da leveza-
um cântico supremo perto dos pássaros -

José ferreira 24 Novembro 2011