quarta-feira, 27 de junho de 2012

Cantar de amigo - um poema de José Almeida Silva




Cantar de Amigo

Não mais, meu amigo,
O passado ido –

O caminho feito
Revelou a luz

E trouxe o presente
Voltado ao futuro.

Sei que não rasuro
O medo e a miséria,

Nem a ignorância
Nem a opressão

Que foi o passado
De dor e sem pão.

Não mais, meu amigo,
O passado ido –

Sei que estou atento
Ao frágil momento –

Velados desejos
De um tempo perverso,

Vestido de outrora
E bandeira preta.

Mas se for preciso
Há luta na hora

Que os dias são outros
E a consciência acesa –

O cansaço é muito,
Muito o desencanto

Mas há muita força
Para defender

O grande poder
Que é a liberdade –

Não mais, meu amigo.
Vem cantar comigo –

                     2012.06.11
    José Almeida da Silva

Do que Nada se Sabe

 






A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege. Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"