segunda-feira, 20 de agosto de 2012

duas bicicletas e um chapéu vermelho




duas bicicletas e um chapéu vermelho
subiram lentamente o monte
perna a perna
rodando
em círculos, sem vértices, redondos
na amplitude das correntes –

verde, tão verde,  de cada lado do silêncio
foi o caminho
enquanto os pulmões abriam e recebiam
a altitude do ar
a pressa do vento
a promessa de escutar o horizonte
 atraídos pelo íman,  de cima
no plano alto dos sentidos  –


dentro de cada um morava um segredo
a alma dupla, a constelação gémea
como se antes de subir o monte
em cada um se abrisse o peito
como uma porta desconhecida
ao som de uma harpa, de um chamamento
preparando aquele único instante
irrepetível
como o nascimento:

dois que existem sobre o verde
dois unidos no pensamento
quatro símbolos em uníssono:

fogo, ar e terra,  e um mar infinito

no espelho dos olhos, nas ondas do corpo
na dupla luz do brilho, no olhar líquido
e um reflexo:

um lago e um  cisne–

josé ferreira 19 Agosto 2012