quinta-feira, 27 de setembro de 2012

só as árvores sabem


                             Felix Mas                       

os raios de sol de novo sobre a testa e as palavras.
o outono entrou pela chuva e espalhou as folhas.
mas há luminosidades
os teus olhos, os teus lábios –

escrevo-te na mágoa da ausência
na página branca
através de dedos coloridos e tinta permanente
e escrevo-te  para construir a seiva, sempre
para que ela circule e se liberte
na expansão mais célebre –

só os ouvidos das estátuas, sabem
só os versos quando escritos, sabem
só as músicas , sabem
só as cores espalhadas nas mesmas margens, sabem

só as árvores, só as árvores
sabem –


josé ferreira 27 Setembro 2012

A Mulher

                                             Matisse
Se é clara a luz desta vermelha margem 
é porque dela se ergue uma figura nua 
e o silêncio é recente e todavia antigo 
enquanto se penteia na sombra da folhagem. 
Que longe é ver tão perto o centro da frescura 

e as linhas calmas e as brisas sossegadas! 
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço 
que no umbigo principia e fulge em transparência. 
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo 
que em espiral circula ao ritmo da origem. 

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola 
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa. 
O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar. 
Quase dorme no suave clamor e se dissipa 
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível. 

António Ramos Rosa, in "Volante Verde" lido aqui