
escrevo-te pela luz, pela arte e pela dança
num teatro de sonhos e num mar de imagens.
sento-me em frente ao palco e os olhos voam na elasticidade absoluta
nos pés de gazela, na impulsão alta como se não fossem
tábuas
e em seu lugar, a invisibilidade de molas e braços que te elevassem –
e não sei como fazes
sei apenas que admiro cada gesto e cada espaço preenchido no
teu salto –~
e se não fosse um palco, e se não fosse esta cidade
e se fosse sábado numa clareira iluminada
ou uma selva onde as panteras fossem cor de rosa
e fizessem parte de
um plano, de um desejo do Éden
para que o mundo deixe de rodar tão depressa
tão tonto, tão cego, perante as estrelas que nascem –
escrevo-te com as mãos abertas e as palavras a saltar do
corpo
como se adquirissem a forma sem arestas de Gestalt
um círculo bem redondo, um colo, a completude óbvia
perante um mundo desorientado na irrealidade contemporânea –
escrevo-te como as velas dos barcos e as pranchas de
Mcnamara
porque nem todos os dias são claros, há nuvens, o risco de
chuvas
e há quem dance
não como o dealbar dos mitos, os primórdios sem consciência
mas para que se ilumine o palco, para que uma aurora tome
conta do mar –
e há quem escreva
poemas
pela abertura das nuvens
pela abertura das nuvens
para que o algodão caia, leve, suave, na transcendência das
palavras –
e torne as praias brancas –
josé ferreira 29 Abril 2013
josé ferreira 29 Abril 2013